domingo, 5 de junho de 2011

A IMPORTÂNCIA DE NOSSA PROFISSÃO

A HISTÓRIA DA GRANDE TORRE
Quais são os profissionais mais importantes da sociedade?
Num tempo não muito distante do nosso, a humanidade ficou tão caótica que os
homens fizeram um grande concurso. Eles queriam saber qual a profissão mais
importante da sociedade. Os organizadores do evento construíram uma grande torre
dentro de um enorme estádio com degraus de ouro, cravejados de pedras preciosas.
A torre era belíssima. Chamaram a imprensa mundial, a TV, os jornais, as revistas e
as rádios para realizarem a cobertura.
O mundo estava plugado no evento. No estádio, pessoas de todas as classes
sociais se espremiam para ver a disputa de perto. As regras eram as seguintes:
cada profissão era representada por um ilustre orador. O orador deveria subir
rapidamente num degrau da torre e fazer um discurso eloqüente e convincente
sobre os motivos pelos quais sua profissão era a mais importante da sociedade
moderna. O orador tinha de permanecer na torre até o final da disputa. A votação
era mundial e pela Internet.
Nações e grandes empresas patrocinavam a disputa. A categoria vencedora
receberia prestígio social, uma grande soma em dinheiro e subsídios do governo.
Estabelecidas as regras, a disputa começou. O mediador do concurso bradou: "O
espaço está aberto!"
Sabem quem subiu primeiro na torre? Os educadores? Não! O representante da
minha classe, a dos psiquiatras.
Ele subiu na torre e a plenos pulmões proclamou: "As sociedades modernas se
tornarão uma fábrica de estresse. A depressão e a ansiedade são as doenças do
século. As pessoas perderam o encanto pela existência. Muitas desistem de viver. A
indústria dos antidepressivos e dos tranqüilizantes se tornou a mais importante do
mundo." Em seguida, o orador fez uma pausa. O público, pasmo, ouvia atentamente
seus argumentos contundentes.
O representante dos psiquiatras concluiu: "O normal é ter conflitos, e o anormal é ser
saudável. O que seria da humanidade sem os psiquiatras? Um albergue de seres
humanos sem qualidade de vida! Por vivermos numa sociedade doentia, declaro que
somos, juntamente com os psicólogos clínicos, os profissionais mais importantes da
sociedade!"
No estádio reinou um silêncio. Muitos na platéia olharam para si mesmos e
perceberam que não eram alegres, estavam estressados, dormiam mal, acordavam
cansados, tinham uma mente agitada, dores de cabeça. Milhões de espectadores
ficaram com a voz embargada. Os psiquiatras pareciam imbatíveis.
Em seguida, o mediador bradou: "O espaço está aberto!" Sabem quem subiu
depois? Os professores? Não! O representante dos magistrados - os juizes de
direito.
Ele subiu num degrau mais alto e num gesto de ousadia desferiu palavras que
abalaram os ouvintes: "Observem os índices de violência! Eles não param de
aumentar. Os seqüestros, assaltos e a violência no trânsito enchem as páginas dos
jornais. A agressividade nas escolas, os maus-tratos infantis, a discriminação racial
e social fazem parte da nossa rotina. Os homens amam seus direitos e desprezam
seus deveres."
Os ouvintes menearam a cabeça, concordando com os argumentos. Em seguida, o
representante dos magistrados foi mais contundente: "O tráfico de drogas
movimenta tanto o dinheiro como o petróleo. Não há como extirpar o crime
organizado. Se vocês querem segurança, aprisionem-se dentro de suas casas, pois
a liberdade pertence aos criminosos. Sem os juizes e os promotores, a sociedade se
esfacela. Por isso, declaro, com o apoio dos promotores e do aparelho policial, que
representamos a classe mais importante da sociedade."
Todos engoliram em seco essas palavras. Elas perturbavam os ouvidos e
queimavam na alma. Mas pareciam incontestáveis. Outro momento de silêncio,
agora mais prolongado. Em seguida, o mediador, já suando frio, disse: "O espaço
está novamente aberto!"
Um outro representante mais intrépido subiu num degrau mais alto da torre. Sabem
quem foi desta vez? Os educadores? Não!
Foi o representante das forças armadas. Com uma voz vibrante e sem delongas, ele
discursou: "Os homens desprezam o valor da vida. Eles se matam por muito pouco.
O terrorismo elimina milhares de pessoas. A guerra comercial mata milhões de
fome. A espécie humana se esfacelou em dezenas de tribos. As nações só se
respeitam pela economia e pelas armas que possuem. Quem quiser a paz tem de se
preparar para a guerra. Os poderes econômico e bélico, e não o diálogo, são os
fatores de equilíbrio num mundo espúrio."
Suas palavras chocaram os ouvintes, mas eram inquestionáveis. Em seguida, ele
concluiu: "Sem as forças armadas, não haveria segurança. O sono seria um
pesadelo. Por isso, declaro, quer se aceite ou não, que os homens das forças
armadas não são apenas a classe profissional mais importante, mas também a mais
poderosa." A alma dos ouvintes gelou. Todos ficaram atônitos.
Os argumentos dos três oradores eram fortíssimos. A sociedade tinha se tornado um
caos. As pessoas do mundo todo, perplexas, não sabiam qual atitude tomar: se
aclamavam um orador, ou se choravam pela crise da espécie humana, que não
honrou sua capacidade de pensar.
Ninguém mais ousou subir na torre. Em quem votariam?
Quando todos pensavam que a disputa havia se encerrado, ouviu-se uma conversa
no sopé da torre. De quem se tratava? Desta vez eram os professores. Havia um
grupo deles da pré-escola, do ensino fundamental, do médio e do universitário. Eles
estavam encostados na torre dialogando com um grupo de pais. Ninguém sabia o
que estavam fazendo. A TV os focalizou e projetou num telão. O mediador gritou
para um deles subir na torre. Eles se recusaram.
O mediador os provocou: "Sempre há covardes numa disputa." Houve risos no
estádio. Fizeram chacota dos professores e dos pais.
Quando todos pensavam que eles eram frágeis, os professores, com o incentivo dos
pais, começaram a debater as idéias, permanecendo no mesmo lugar. Todos se
faziam representar.
Um dos professores, olhando para o alto, disse para o representante dos
psiquiatras: "Nós não queremos ser mais importantes do que vocês. Apenas
queremos ter condições para educar a emoção dos nossos alunos, formar jovens
livres e felizes, para que eles não adoeçam e sejam tratados por vocês."
O representante dos psiquiatras recebeu um golpe na alma.
Em seguida, um outro professor que estava no lado direito da torre olhou para o
representante dos magistrados e disse: "Jamais tivemos a pretensão de ser mais
importantes do que os juizes. Desejamos apenas ter condições para lapidar a
inteligência dos nossos jovens, fazendo-os amar a arte de pensar e aprender a
grandeza dos direitos e dos deveres humanos. Assim, esperamos que jamais se
sentem num banco dos réus." O representante dos magistrados tremeu na torre.
Uma professora do lado esquerdo da torre, aparentemente tímida, encarou o
representante das forças armadas e falou poeticamente: "Os professores do mundo
todo nunca desejaram ser mais poderosos nem mais importantes do que os
membros das forças armadas. Desejamos apenas ser importantes no coração das
nossas crianças. Almejamos levá-las a compreender que cada ser humano não é
mais um número na multidão, mas um ser insubstituível, um ator único no teatro da
existência."
A professora fez uma pausa e completou: "Assim, eles se apaixonarão pela vida, e,
quando estiverem no controle da sociedade, jamais farão guerras, sejam guerras
físicas que retiram o sangue, sejam as comerciais que retiram o pão. Pois cremos
que os fracos usam a força, mas os fortes usam o diálogo para resolver seus
conflitos. Cremos ainda que a vida é obra-prima de Deus, um espetáculo que jamais
deve ser interrompido pela violência humana."
Os pais deliraram de alegria com essas palavras. Mas o representante do judiciário
quase caiu da torre.
Não se ouvia um zumbido na platéia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não
imaginavam que os simples professores que viviam no pequeno mundo das salas de
aula fossem tão sábios. O discurso dos professores abalou os líderes do evento.
Vendo ameaçado o êxito da disputa, o mediador do evento disse arrogantemente:
"Sonhadores! Vocês vivem fora da realidade!" Um professor destemido bradou com
sensibilidade: "Se deixarmos de sonhar, morreremos!"
Sentindo-se questionado, o organizador do evento pegou o microfone e foi mais
longe na intenção de ferir os professores: "Quem se importa com os professores na
atualidade? Comparem-se com outras profissões. Vocês não participam das mais
importantes reuniões políticas. A imprensa raramente os noticia. A sociedade pouco
se importa com a escola. Olhem para o salário que vocês recebem no final do mês!"
Uma professora fitou-o e disse-lhe com segurança: "Não trabalhamos apenas pelo
salário, mas pelo amor dos seus filhos e de todos os jovens do mundo."
Irado, o líder do evento gritou: "Sua profissão será extinta nas sociedades modernas.
Os computadores os estão substituindo! Vocês são indignos de estar nesta disputa.'
A platéia, manipulada, mudou de lado. Condenaram os professores. Exaltaram a
educação virtual. Gritaram em coro: "Computadores! Computadores! Fim dos
professores!" O estádio entrou em delírio repetindo esta frase. Sepultaram os
mestres. Os professores nunca haviam sido tão humilhados. Golpeados por essas
palavras, resolveram abandonar a torre. Sabem o que aconteceu?
A torre desabou. Ninguém imaginava, mas eram os professores e os pais que
estavam segurando a torre. A cena foi chocante. Os oradores foram hospitalizados.
Os professores tomaram então outra atitude inimaginável: abandonaram, pela
primeira vez, as salas de aula.
Tentaram substituí-los por computadores, dando uma máquina para cada aluno.
Usaram as melhores técnicas de multimídia. Sabem o que ocorreu?
A sociedade desabou. As injustiças e as misérias da alma aumentaram mais ainda.
A dor e as lágrimas se expandiram. O cárcere da depressão, do medo e da
ansiedade atingiu grande parte da população. A violência e os crimes se
multiplicaram. A convivência humana, que já estava difícil, ficou intolerável. A
espécie humana gemeu de dor. Corria o risco de não sobreviver...
Estarrecidos, todos entenderam que os computadores não conseguiam ensinar a
sabedoria, a solidariedade e o amor pela vida. O público nunca pensara que os
professores fossem os alicerces das profissões e o sustentáculo do que é mais
lúcido e inteligente entre nós. Descobriu-se que o pouco de luz que entrava na
sociedade vinha do coração dos professores e dos pais que arduamente educavam
seus filhos.
Todos entenderam que a sociedade vivia uma longa e nebulosa noite. A ciência, a
política e o dinheiro não conseguiam superá-la. Perceberam que a esperança de um
belo amanhecer repousa sobre cada pai, cada mãe e cada professor, e não sobre os
psiquiatras, o judiciário, os militares, a imprensa...
Não importa se os pais moram num palácio ou numa favela, e se os professores dão
aulas numa escola suntuosa ou pobre - eles são a esperança do mundo.
Diante disso, os políticos, os representantes das classes profissionais e os
empresários fizeram uma reunião com os professores em cada cidade de cada
nação. Reconheceram que tinham cometido um crime contra a educação. Pediram
desculpas e rogaram para que eles não abandonassem seus filhos.
Em seguida, fizeram uma grande promessa. Afirmaram que a metade do orçamento
que gastavam com armas, com o aparato policial e com a indústria dos
tranqüilizantes e dos antidepressivos seria investida na educação. Prometeram
resgatar a dignidade dos professores, e dar condições para que cada criança da
Terra fosse nutrida com alimentos no seu corpo e com o conhecimento na sua alma.
Nenhuma delas ficaria mais sem escola.
Os professores choraram. Ficaram comovidos com tal promessa. Há séculos eles
esperavam que a sociedade acordasse para o drama da educação. Infelizmente, a
sociedade só acordou quando as misérias sociais atingiram patamares
insuportáveis.
Mas, como sempre trabalharam como heróis anônimos e sempre foram apaixonados
por cada criança, cada adolescente e cada jovem, os professores resolveram voltar
para a sala de aula e ensinar cada aluno a navegar nas águas da emoção.
Pela primeira vez, a sociedade colocou a educação no centro das suas atenções. A
luz começou a brilhar depois da longa tempestade... No final de dez anos os
resultados apareceram, e depois de vinte anos todos ficaram boquiabertos.
Os jovens não desistiam mais da vida. Não havia mais suicídios. O uso de drogas
dissipou-se. Quase não se ouvia falar mais de transtornos psíquicos e de violência.
E a discriminação? O que é isso? Ninguém se lembrava mais do seu significado. Os
brancos abraçavam afetivamente os negros. As crianças judias dormiam na casa
das crianças palestinas. O medo se dissolveu, o terrorismo desapareceu, o amor
triunfou.
Os presídios se tornaram museus. Os policiais se tornaram poetas. Os consultórios
de psiquiatria se esvaziaram. Os psiquiatras se tornaram escritores. Os juizes se
tornaram músicos. Os promotores se tornaram filósofos. E os generais?
Descobriram o perfume das flores, aprenderam a sujar suas mãos para cultivá-las.
E os jornais e as TVs do mundo? O que noticiavam, o que vendiam? Deixaram de
vender mazelas e lágrimas humanas. Vendiam sonhos, anunciavam a esperança...
Quando esta história se tornará realidade? Se todos sonharmos este sonho, um dia
ele deixará de ser apenas um sonho.
Fonte: livro Pais brilhantes, professores fascinantes
Augusto Cury,

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